No dia 23 de maio, participando do
Seminário de Educação da Escola São Miguel, em Charqueadas, tive contato com o
texto sobre a diminuição da maioridade penal escrito por Eliane Brum. A
discussão que a leitura gerou entre as professoras que ali estavam, me remeteu
diretamente à Copa do Mundo. O Brasil está gastando bilhões de reais para
receber o evento e tenho escutado muitos brasileiros criticando a inutilidade
desse gasto. Pra que serve, então, a Copa do Mundo? Para a nossa indignação.
Essa é a palavra em torno da qual disserta a escritora anteriormente citada.
É possível que se faça uma linha para
ilustrar o sistema do nosso país. Em um dos extremos está o governo e no outro
nós, o povo brasileiro. Entre os dois pontos os problemas sociais noticiados
diariamente pela mídia. O governo é quem tem o poder e o dever de cuidar e
mudar a nossa péssima condição social. Os brasileiros que trabalham nas
entidades públicas, como escolas e hospitais, e principalmente quem as administra são quem o governo quer que dê conta de tudo isso. Ultimamente, temos visto
várias boas mudanças que estão sendo anunciadas na televisão pelos próprios
“poderosos” dentro de um sorriso orgulhoso. Cito algumas que considero mais importantes: nenhuma criança ficará fora da sala de aula, as escolas públicas
são obrigadas a dar vagas; agora, os hospitais públicos têm sessenta dias para
iniciar o tratamento de câncer em usuários do SUS; milhares de jovens
brasileiros podem cursar a universidade sem custo algum através do PROUNI; e,
paremos por aqui. O poder
determinou, agora cumpram!
A escola precisa incluir na sala de
aula mais um aluno, mas quem criou a lei de trás de uma mesa, não sabe que o
número de alunos que estudam ali já passou dos limites do que seria preciso
para um ensino de qualidade. Isso sem nem considerar os outros aspectos da
(falta de) educação. Além do número exorbitante de alunos na turma, alguns necessitam de atendimento e cuidados especiais, mas
o Estado não prepara os professores pra isso, ou seja, essa primeira grande
mudança é fajuta.
Levantem as mãos para o céu! O
Governo Federal encontrou a solução para o seu familiar que tem câncer. Mais
uma utopia. Que condições têm os hospitais públicos de diagnosticar e tratar o
câncer em “tão pouco tempo”? Não sei, virem-se os dirigentes das entidades, o
governo já fez sua parte, criou a lei.
Quem usufruiu do PROUNI deve estar só
esperando pela minha crítica a essa maravilha, mas não é sobre o programa que
cai minha indignação, é sobre essa maneira de mais uma vez mascarar as reais
soluções para os problemas do Brasil. A qualidade da educação está despencando,
mas nada se faz para que as crianças sejam bem alfabetizadas e para que cresçam
intelectualmente a cada ano que passam na escola. Nos casos em que isso
acontece, deve-se boa parte dos méritos aos profissionais da educação. Eles que não ganham um
amparo financeiro ideal e nem boas condições de trabalho. Se o governo se preocupasse com a melhoria da escolaridade desde a sua base,
nós, jovens universitários, teríamos condições de obter uma aprovação nas
universidades públicas ou estaríamos bem colocados no mercado de trabalho
tendo, assim, condições de pagar nossos estudos, sem contar a preciosidade do
conhecimento que jamais nos tirariam.
Nada disso importa. Teremos a Copa do Mundo e,
ainda gastaremos mais alguns francos
nos ingressos pra ver a solução do Brasil, o futebol. Reflita se você não pensa
assim. Enquanto isso, eu me indigno por, mais uma vez, o poder público do Brasil ser tão
estúpido que em vez de aproveitar o evento mundial para trazer reais melhorias
à sede da Copa, já gastou 26 BIlhões
e meio em estádios de futebol, reformas nos aeroportos e algumas mudanças na
saúde para receber bem os estrangeiros. A Copa do Mundo de 2014 só não será
mais vergonhosa do que as condições sociais dos seus anfitriões. Indigne-se!
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