quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Um Roteiro Corriqueiro

 

Isabela nunca quis casar. Não que ela não acreditasse no amor, mas não conseguia acreditar nos casais felizes para sempre. Parecia-lhe que depois de alguns anos, o companheirismo do casal tomava conta de tudo e acabava com a chance de sentir o friozinho na barriga.

Mas todo mundo sabe que aquela frase clichê faz todo sentido: a gente não escolhe de quem vai gostar. E então ela encontrou o amor da vida dela. Felipe a fez deixar de pensar naquilo tudo, a pediu em casamento e fazia disparar o frio na barriga sempre que inventava uma surpresa nova, mas depois de quatro anos entre namoro e noivado, ela voltou a confiar nas suas teorias e teve certeza, mais uma vez, de que não poderia dividir a sua vida com uma única pessoa. Assim ela era feliz. E foi feliz e sentiu aquela sensação que ela tanto amava a cada nova paixão. Depois do Felipe, o único romance que durou mais de 2 anos foi com a Maira, os outros todos passageiros.

Aos 39 anos ela teve a sua primeira decepção amorosa, mas não sabia dizer de quem era a culpa. Isabela se apaixonou por um homem casado, que vivia uma vida feliz com a esposa e os dois filhos. Embora ela soubesse que eles já estavam naquela fase do relacionamento que ela desprezava, Théo não sabia disso e ela não se achava no direito de alertá-lo. Lembrou que além do Théo, mais alguns homens casados a tinham feito sentir o frio na barriga e aí que veio a decepção: ela se deu conta de que, a maioria das pessoas, uma hora decidiam compartilhar sua vida com alguém, fosse por amor ou por cansar daquela procura pela pessoa perfeita. Certo ou não, Théo era uma dessas pessoas, mas parecia que não era por cansaço, pois apesar das investidas dela, ele nunca demonstrou reciprocidade. Isabela entendeu então, que teria que se entregar a um desses amores eternos.

Assim ela aprendeu que existia mais um motivo pra decidir ficar com alguém. Procurou Felipe. Casou e vivia uma vida quase perfeita, mas o frio na barriga quem proporcionava ainda era o Théo, mesmo que em todas as conversas falasse sobre a esposa, mesmo que ele se sentisse orgulhoso daquela amizade bonita que eles criaram. Quando entendeu o que ele a fazia sentir e quando entendeu também que ele não estava disposto a mudar o roteiro da vida dele, ela aceitou que teria que aprender a conviver com aquela vontade de estar perto sem poder estar. Assim ela foi feliz no seu para sempre: dividindo a sua vida com alguém especial e deixando na imaginação tudo o que poderia acontecer se o Théo sentisse o mesmo por ela. Ou se ele ao menos tivesse coragem de contar que sentia.

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