Isabela nunca quis casar. Não que ela
não acreditasse no amor, mas não conseguia acreditar nos casais felizes para
sempre. Parecia-lhe que depois de alguns anos, o companheirismo do casal
tomava conta de tudo e acabava com a chance de sentir o friozinho na barriga.
Mas todo mundo sabe que aquela frase clichê
faz todo sentido: a gente não escolhe de quem vai gostar. E então ela encontrou
o amor da vida dela. Felipe a fez deixar de pensar naquilo tudo, a pediu em
casamento e fazia disparar o frio na barriga sempre que inventava uma surpresa
nova, mas depois de quatro anos entre namoro e noivado, ela voltou a confiar
nas suas teorias e teve certeza, mais uma vez, de que não poderia dividir a sua
vida com uma única pessoa. Assim ela era feliz. E foi feliz e sentiu aquela
sensação que ela tanto amava a cada nova paixão. Depois do Felipe, o único
romance que durou mais de 2 anos foi com a Maira, os outros todos passageiros.
Aos 39 anos ela teve a sua primeira
decepção amorosa, mas não sabia dizer de quem era a culpa. Isabela se apaixonou
por um homem casado, que vivia uma vida feliz com a esposa e os dois filhos.
Embora ela soubesse que eles já estavam naquela fase do relacionamento que ela
desprezava, Théo não sabia disso e ela não se achava no direito de alertá-lo.
Lembrou que além do Théo, mais alguns homens casados a tinham feito sentir o
frio na barriga e aí que veio a decepção: ela se deu conta de que, a maioria
das pessoas, uma hora decidiam compartilhar sua vida com alguém, fosse por amor
ou por cansar daquela procura pela pessoa perfeita. Certo ou não, Théo era uma
dessas pessoas, mas parecia que não era por cansaço, pois apesar das investidas
dela, ele nunca demonstrou reciprocidade. Isabela entendeu então, que teria que
se entregar a um desses amores eternos.
Assim ela aprendeu que existia mais
um motivo pra decidir ficar com alguém. Procurou Felipe. Casou e vivia uma vida
quase perfeita, mas o frio na barriga quem proporcionava ainda era o Théo,
mesmo que em todas as conversas falasse sobre a esposa, mesmo que ele se
sentisse orgulhoso daquela amizade bonita que eles criaram. Quando entendeu o
que ele a fazia sentir e quando entendeu também que ele não estava disposto a mudar
o roteiro da vida dele, ela aceitou que teria que aprender a conviver com
aquela vontade de estar perto sem poder estar. Assim ela foi feliz no seu para
sempre: dividindo a sua vida com alguém especial e deixando na imaginação
tudo o que poderia acontecer se o Théo sentisse o mesmo por ela. Ou se ele ao
menos tivesse coragem de contar que sentia.
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