Indo para o trabalho hoje à tarde, sentei-me na mesma
poltrona de sempre. Eis que um senhor sentou ao meu lado no ônibus e me
perguntou o que era preciso para escrever um poema. Fiquei alguns segundos
pensando o que responder, já que a pergunta que perambulava na minha cabeça era
outra muito mais difícil. Como ele sabia que eu escrevia? Respondi apenas inspiração.
Mas sobre aquela segunda pergunta, a minha, eu não sabia o que pensar.
Publiquei pouca coisa, mas nada acompanhado de foto. Aliás, escrevi pouca
coisa, quase nada de poesia. Aí lembrei
do que uma amiga havia me falado alguns dias antes, que quando estamos felizes,
normalmente por ter conhecido alguém especial, fica muito mais fácil de
escrever. É como sentar à frente de um computador e esperar que venham as
palavras. Juntando os dois fatos, deduzi que aquele senhor percebeu que eu estava especialmente feliz e deve ter
me achado com cara de poeta. Agora estou aqui escrevendo sobre o ocorrido.
Estou tão inspirada – não tanto a ponto de fazer um poema – que pensei em
escrever um conto, mas o que aconteceu foi, de fato, tão interessante que
decidi pela crônica.
Os estudantes, desde o ensino fundamental, são intimados
a criar textos sobre suas férias ou sobre a última notícia do jornal. Não
conseguem escrever, pois não tem a “tal inspiração”. O que os professores não
se dão conta é que deveriam aproveitar que os adolescentes estão sempre
apaixonados ou desapaixonados e aguçar o gosto pela escrita fazendo desses
sentimentos uma ferramenta. Mas como todos os aspectos da educação no Brasil,
as ideias dos professores também estão precárias, o que é completamente
compreensível para mim, futura professora de Língua Portuguesa e assustada com
o ensino público (ultimamente com o privado também). Facilitaria se fossem
sugeridos, pelo menos, três temas e mais um que desse ao aluno liberdade de escrever
sobre o assunto de sua preferência, pois não sabemos se naquele mesmo dia ele
não viu um “passarinho verde” que o trouxe inspiração ou se não levou um “chute
no bumbum” e está precisando escrever um pouco para “afogar as mágoas”.
Conheço uma pessoa que – acreditem – ganha até dinheiro
publicando livros, que costuma dizer que um autor precisa de algo que o deixe
triste, ou até depressivo, para ter assunto suficiente para fazer da escrita o
seu trabalho. Do contrário, cria um texto aqui, outro ali, pensando sempre em
coisas banais, fazendo com que o leitor ache tudo muito parecido. Como eu já
disse, ele é um “escritor de verdade”, sabe o que está dizendo. E agora, quem
está certo, o triste e experiente autor ou eu que estou aqui super feliz por
ter conhecido uma pessoa que me trouxe inspiração para escrever esta pequena
crônica?
As minhas notas de redações na escola eram sempre baixas
porque não chegavam às vinte linhas solicitadas pela professora. O problema é
que sempre que começo a escrever – sim, é assim até hoje – eu já sei como será
o final e a ansiedade de contar essa parte me impede de desenvolver mais as
ideias. Então, vamos logo ao ponto onde eu queria chegar, aproveitando para
responder a pergunta do parágrafo anterior. O que faz deste texto uma crônica e
não um conto? Agora já são duas perguntas para responder e eu não vou fazê-lo.
Como estudante de letras, vou treinar para a minha futura profissão tentando
instigar o pensamento do leitor. A principal característica que difere a
crônica do conto é que um é real e o outro é ficcional, certo? Aquela primeira
pergunta, por exemplo, não me foi feita, eu não conheci ninguém nesta semana e as vezes escrevo quando estou triste e as vezes
quando estou feliz e nem por isso podemos dizer que este texto é um conto,
mesmo que muita coisa nele seja ficção. Então, colegas professores, paremos um
pouco de exigir tanta classificação e tentemos despertar nos alunos o gosto
pela leitura. Estudar os gêneros literários é sim, muito importante, mas o
saber escrever só acontece depois de muita leitura. De nada adianta classificar
e não conseguir ler e expressar-se.
Agosto/2012
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