quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Como Eu Conto a Crônica


Indo para o trabalho hoje à tarde, sentei-me na mesma poltrona de sempre. Eis que um senhor sentou ao meu lado no ônibus e me perguntou o que era preciso para escrever um poema. Fiquei alguns segundos pensando o que responder, já que a pergunta que perambulava na minha cabeça era outra muito mais difícil. Como ele sabia que eu escrevia? Respondi apenas inspiração. Mas sobre aquela segunda pergunta, a minha, eu não sabia o que pensar. Publiquei pouca coisa, mas nada acompanhado de foto. Aliás, escrevi pouca coisa, quase nada de poesia.  Aí lembrei do que uma amiga havia me falado alguns dias antes, que quando estamos felizes, normalmente por ter conhecido alguém especial, fica muito mais fácil de escrever. É como sentar à frente de um computador e esperar que venham as palavras. Juntando os dois fatos, deduzi que aquele senhor percebeu que eu estava especialmente feliz e deve ter me achado com cara de poeta. Agora estou aqui escrevendo sobre o ocorrido. Estou tão inspirada – não tanto a ponto de fazer um poema – que pensei em escrever um conto, mas o que aconteceu foi, de fato, tão interessante que decidi pela crônica.
Os estudantes, desde o ensino fundamental, são intimados a criar textos sobre suas férias ou sobre a última notícia do jornal. Não conseguem escrever, pois não tem a “tal inspiração”. O que os professores não se dão conta é que deveriam aproveitar que os adolescentes estão sempre apaixonados ou desapaixonados e aguçar o gosto pela escrita fazendo desses sentimentos uma ferramenta. Mas como todos os aspectos da educação no Brasil, as ideias dos professores também estão precárias, o que é completamente compreensível para mim, futura professora de Língua Portuguesa e assustada com o ensino público (ultimamente com o privado também). Facilitaria se fossem sugeridos, pelo menos, três temas e mais um que desse ao aluno liberdade de escrever sobre o assunto de sua preferência, pois não sabemos se naquele mesmo dia ele não viu um “passarinho verde” que o trouxe inspiração ou se não levou um “chute no bumbum” e está precisando escrever um pouco para “afogar as mágoas”.
Conheço uma pessoa que – acreditem – ganha até dinheiro publicando livros, que costuma dizer que um autor precisa de algo que o deixe triste, ou até depressivo, para ter assunto suficiente para fazer da escrita o seu trabalho. Do contrário, cria um texto aqui, outro ali, pensando sempre em coisas banais, fazendo com que o leitor ache tudo muito parecido. Como eu já disse, ele é um “escritor de verdade”, sabe o que está dizendo. E agora, quem está certo, o triste e experiente autor ou eu que estou aqui super feliz por ter conhecido uma pessoa que me trouxe inspiração para escrever esta pequena crônica?
As minhas notas de redações na escola eram sempre baixas porque não chegavam às vinte linhas solicitadas pela professora. O problema é que sempre que começo a escrever – sim, é assim até hoje – eu já sei como será o final e a ansiedade de contar essa parte me impede de desenvolver mais as ideias. Então, vamos logo ao ponto onde eu queria chegar, aproveitando para responder a pergunta do parágrafo anterior. O que faz deste texto uma crônica e não um conto? Agora já são duas perguntas para responder e eu não vou fazê-lo. Como estudante de letras, vou treinar para a minha futura profissão tentando instigar o pensamento do leitor. A principal característica que difere a crônica do conto é que um é real e o outro é ficcional, certo? Aquela primeira pergunta, por exemplo, não me foi feita, eu não conheci ninguém nesta semana e as vezes escrevo quando estou triste e as vezes quando estou feliz e nem por isso podemos dizer que este texto é um conto, mesmo que muita coisa nele seja ficção. Então, colegas professores, paremos um pouco de exigir tanta classificação e tentemos despertar nos alunos o gosto pela leitura. Estudar os gêneros literários é sim, muito importante, mas o saber escrever só acontece depois de muita leitura. De nada adianta classificar e não conseguir ler e expressar-se.


Agosto/2012

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