tag:blogger.com,1999:blog-3970107947169115862024-03-27T13:01:01.147-07:00Grazie AraujoUnknownnoreply@blogger.comBlogger16125tag:blogger.com,1999:blog-397010794716911586.post-61397631221747446572023-06-27T09:24:00.005-07:002023-07-20T09:01:03.729-07:00Soneto Fora do Controle<p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Hoje o
coração amanheceu apertado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Ele
aperta quando te vê<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Ele
aperta quando te vê partir<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Ele
aperta por não saber se queres ficar ou sair<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Hoje
meu coração ficou cheio quando te viu passar<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Apertou
e acelerou de encantamento<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">E
acelerou ainda mais<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Quando
viu que teu caminho era contrário ao meu<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Hoje o
coração amanheceu batendo diferente<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Mais
rápido e mais forte<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Vendaval
que bagunça até o que está no lugar<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Disseram
que era soneto<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Disseram
que uma só pessoa pode encher o peito<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Disseram
que eu não podia mudar essas estruturas<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Mas se
nem poesia precisa de rima<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm;"><span face=""Arial","sans-serif"" style="font-size: 12pt;">Por que
só tu podes encher de luz o meu dia?<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-397010794716911586.post-14390691002561330722021-08-25T06:43:00.002-07:002023-06-27T10:10:03.382-07:00Um Roteiro Corriqueiro<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Isabela nunca quis casar. Não que ela
não acreditasse no amor, mas não conseguia acreditar nos casais <i>felizes para
sempre</i>. Parecia-lhe que depois de alguns anos, o companheirismo do casal
tomava conta de tudo e acabava com a chance de sentir o friozinho na barriga.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Mas todo mundo sabe que aquela frase clichê
faz todo sentido: a gente não escolhe de quem vai gostar. E então ela encontrou
o amor da vida dela. Felipe a fez deixar de pensar naquilo tudo, a pediu em
casamento e fazia disparar o frio na barriga sempre que inventava uma surpresa
nova, mas depois de quatro anos entre namoro e noivado, ela voltou a confiar
nas suas teorias e teve certeza, mais uma vez, de que não poderia dividir a sua
vida com uma única pessoa. Assim ela era feliz. E foi feliz e sentiu aquela
sensação que ela tanto amava a cada nova paixão. Depois do Felipe, o único
romance que durou mais de 2 anos foi com a Maira, os outros todos passageiros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Aos 39 anos ela teve a sua primeira
decepção amorosa, mas não sabia dizer de quem era a culpa. Isabela se apaixonou
por um homem casado, que vivia uma vida feliz com a esposa e os dois filhos.
Embora ela soubesse que eles já estavam naquela fase do relacionamento que ela
desprezava, Théo não sabia disso e ela não se achava no direito de alertá-lo.
Lembrou que além do Théo, mais alguns homens casados a tinham feito sentir o
frio na barriga e aí que veio a decepção: ela se deu conta de que, a maioria
das pessoas, uma hora decidiam compartilhar sua vida com alguém, fosse por amor
ou por cansar daquela procura pela pessoa perfeita. Certo ou não, Théo era uma
dessas pessoas, mas parecia que não era por cansaço, pois apesar das investidas
dela, ele nunca demonstrou reciprocidade. Isabela entendeu então, que teria que
se entregar a um desses amores eternos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">Assim ela aprendeu que existia mais
um motivo pra decidir ficar com alguém. Procurou Felipe. Casou e vivia uma vida
quase perfeita, mas o frio na barriga quem proporcionava ainda era o Théo,
mesmo que em todas as conversas falasse sobre a esposa, mesmo que ele se
sentisse orgulhoso daquela amizade bonita que eles criaram. Quando entendeu o
que ele a fazia sentir e quando entendeu também que ele não estava disposto a mudar
o roteiro da vida dele, ela aceitou que teria que aprender a conviver com
aquela vontade de estar perto sem poder estar. Assim ela foi feliz no seu <i>para
sempre</i>: dividindo a sua vida com alguém especial e deixando na imaginação
tudo o que poderia acontecer se o Théo sentisse o mesmo por ela. Ou se ele ao
menos tivesse coragem de contar que sentia.<o:p></o:p></span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-397010794716911586.post-74329865400472706422015-06-21T06:17:00.001-07:002023-06-27T09:33:44.297-07:00Enquanto eu Tomava o meu Chimarrão<div class="Standard" style="margin-bottom: 12.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Mangal;">Eu decidi voltar. No 492º
dia fora de casa, enquanto eu tomava meu chimarrão, decidi começar a planejar
minha volta. Começar a pesquisar preços de passagens, pensar em qual mês seria</span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Mangal;"> mais tranquilo pra chegar
em casa, pensar em onde será a minha casa, já que casei e, por isso, a casa dos
meus pais não e</span><span lang="PT-BR" style="font-family: "Arial","sans-serif"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Mangal;"> mais uma opção, pensar se vou primeiro pra Charqueadas ou se primeiro
visito meus sogros em São Paulo e por ai foi meu pensamento durante toda a
tarde de hoje. Um turbilhão de coisas na cabeça por causa de um chimarrão.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div class="Standard" style="margin-bottom: 12.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Mangal;">Quando eu vim morar em
Dublin, as primeiras coisas que foram pra mala foram a minha cuia, que comprei
especialmente pra trazer, minha bomba e cinco quilos de erva mate. A cuia foi
comprada no mesmo lugar em que meu pai sempre compra tudo que precisa pro chimarrão,
no Mercado Público de Porto Alegre. A bomba foi presente de primeira qualidade que
ganhei<span style="color: red;"> </span>da minha prima e a erva não pude comprar
a mesma que sempre usamos em casa porque não vem embalada a vácuo, então
comprei de uma marca que eu já conhecia e sabia que era boa.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="Standard" style="margin-bottom: 12.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Mangal;">Tive muito cuidado nessa
etapa da preparação da minha viagem porque, como todo bom gaúcho, não vivo sem chimarrão
e como eu sabia que passaria, pelo menos, um ano fora, escolhi tudo a dedo. Mas,
pasmem! Aqueles cinco quilos de erva mate que eu trouxe ainda não acabaram. Até
alguns dias atrás o que eu entendia disso era que sim, eu posso viver sem chimarrão,
já que eu consigo saciar o meu “ex-vicio” somente uma vez na semana ou até em
um intervalo maior. Hoje, enquanto eu tomava o meu chimarrão, eu descobri que
eu estava enganada: ainda tenho erva no meu estoque porque aqui ele<span style="color: red;"> </span>não tem o mesmo gosto.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="Standard" style="margin-bottom: 12.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Mangal;">Imagino que alguém me
perguntaria agora por que não tem o mesmo gosto se eu trouxe cuia, bomba e erva
mate do Rio Grande do Sul. Será a água? Não, aqui a água tem o mesmo gosto de
nada que ela tem no Brasil. O que faz o chimarrão não ter o mesmo gosto é a
falta da roda que se cria em volta dele naquele momento tão especial do dia.
Hoje, enquanto eu tomava meu chimarrão, pude enxergar a fumacinha saindo da
garrafa térmica no momento em que meu pai servia o próximo. Enquanto eu tomava
meu chimarrão, pude me sentir como se estivesse sentada no colo da minha mãe
nos fundos de casa enquanto era a vez dos meus irmãos na roda. Pude sentir o
cheiro da comida sendo preparada no fogão a lenha e enxergar os meus gatos se
aquecendo debaixo dele.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">Hoje, pela primeira vez em
492 dias, eu senti o verdadeiro gosto do chimarrão e percebi que ele não é
apenas uma bebida amarga típica do Sul do Brasil. Percebi que aquele gosto faz
parte das nossas vidas, nos aproximando das nossas famílias e amigos e que ele
tem o poder de cultivar bons sentimentos. Hoje, enquanto eu tomava o meu chimarrão,
eu descobri que nada tem valor maior do que poder compartilhar esse sabor
amargo com as pessoas que nos fazem ter os sentimentos mais doces da vida.</span></div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-397010794716911586.post-25335428279666776292013-05-30T14:34:00.005-07:002023-07-20T09:16:31.458-07:00Pra que serve a Copa do Mundo?<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">No dia 23 de maio, participando do
Seminário de Educação da Escola São Miguel, em Charqueadas, tive contato com o
texto sobre a diminuição da maioridade penal escrito por Eliane Brum. A
discussão que a leitura gerou entre as professoras que ali estavam, me remeteu
diretamente à Copa do Mundo. O Brasil está gastando bilhões de reais para
receber o evento e tenho escutado muitos brasileiros criticando a inutilidade
desse gasto. Pra que serve, então, a Copa do Mundo? Para a nossa indignação.
Essa é a palavra em torno da qual disserta a escritora anteriormente citada.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">É possível que se faça uma linha para
ilustrar o sistema do nosso país. Em um dos extremos está o governo e no outro
nós, o povo brasileiro. Entre os dois pontos os problemas sociais noticiados
diariamente pela mídia. O governo é quem tem o poder e o dever de cuidar e
mudar a nossa péssima condição social. Os brasileiros que trabalham nas
entidades públicas, como escolas e hospitais, e principalmente quem as administra são quem o governo quer que dê conta de tudo isso. Ultimamente, temos visto
várias boas mudanças que estão sendo anunciadas na televisão pelos próprios
“poderosos” dentro de um sorriso orgulhoso. Cito algumas que considero mais importantes: nenhuma criança ficará fora da sala de aula, as escolas públicas
são obrigadas a dar vagas; agora, os hospitais públicos têm sessenta dias para
iniciar o tratamento de câncer em usuários do SUS; milhares de jovens
brasileiros podem cursar a universidade sem custo algum através do PROUNI; e,
paremos por aqui.<b> </b>O poder
determinou, agora cumpram!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">A escola precisa incluir na sala de
aula mais um aluno, mas quem criou a lei de trás de uma mesa, não sabe que o
número de alunos que estudam ali já passou dos limites do que seria preciso
para um ensino de qualidade. Isso sem nem considerar os outros aspectos da
(falta de) educação. Além do número exorbitante de alunos na turma, alguns necessitam de atendimento e cuidados especiais, mas
o Estado não prepara os professores pra isso, ou seja, essa primeira grande
mudança é fajuta.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Levantem as mãos para o céu! O
Governo Federal encontrou a solução para o seu familiar que tem câncer. Mais
uma utopia. Que condições têm os hospitais públicos de diagnosticar e tratar o
câncer em “tão pouco tempo”? Não sei, virem-se os dirigentes das entidades, o
governo já fez sua parte, criou a lei.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Quem usufruiu do PROUNI deve estar só
esperando pela minha crítica a essa maravilha, mas não é sobre o programa que
cai minha indignação, é sobre essa maneira de mais uma vez mascarar as reais
soluções para os problemas do Brasil. A qualidade da educação está despencando,
mas nada se faz para que as crianças sejam bem alfabetizadas e para que cresçam
intelectualmente a cada ano que passam na escola. Nos casos em que isso
acontece, deve-se boa parte dos méritos aos profissionais da educação. Eles que não ganham um
amparo financeiro ideal e nem boas condições de trabalho. Se o governo se preocupasse com a melhoria da escolaridade desde a sua base,
nós, jovens universitários, teríamos condições de obter uma aprovação nas
universidades públicas ou estaríamos bem colocados no mercado de trabalho
tendo, assim, condições de pagar nossos estudos, sem contar a preciosidade do
conhecimento que jamais nos tirariam. <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif"> Nada disso importa. Teremos a Copa do Mundo e,
ainda gastaremos mais alguns <i>francos</i>
nos ingressos pra ver a solução do Brasil, o futebol. Reflita se você não pensa
assim. Enquanto isso, eu me indigno por, mais uma vez, o poder público do Brasil ser tão
estúpido que em vez de aproveitar o evento mundial para trazer reais melhorias
à sede da Copa, já gastou 26 <b>BI</b>lhões
e meio em estádios de futebol, reformas nos aeroportos e algumas mudanças na
saúde para receber bem os estrangeiros. A Copa do Mundo de 2014 só não será
mais vergonhosa do que as condições sociais dos seus anfitriões. Indigne-se!</span></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-397010794716911586.post-45498955686531420882013-02-07T08:11:00.001-08:002013-02-07T08:12:37.472-08:00Silêncio no Jardim<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Me dá um medo incrível toda vez que percebo
ele me olhando. Eu não sei o que passa naquela mente enquanto os olhos me
seguem e mudam até o brilho dependendo do que eu faço. E se meu olhar cruza,
sem querer, o dele, ele sorri.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Há pouco mais de cinco anos Moisés
está na clínica. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu, mas quando sua mãe o
trouxe disse apenas que ele havia perdido a noiva em um acidente aéreo em 2007.
Teve a companhia da família nos primeiros meses, pelo menos, uma vez por semana
e conforme o tempo ia passando, crescia o intervalo entre as visitas. No fim do
ano passado tentei contato com os pais, mas parece que não moram mais em Porto
Alegre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Trabalho na Santa Cecília desde que
me formei em terapia ocupacional, fora o estágio obrigatório da faculdade que
realizei aqui também. Foi nesse período que pude ter certeza da área que eu
queria seguir e assim que peguei o certificado de conclusão do meu curso, tirei
uma cópia pra anexar aos meus documentos na clínica. Fui chamada em dezessete
dias. Jamais senti medo de paciente algum. Jamais pedi pra que algum colega me
substituísse em tarefa nenhuma. Eu adoro esse lugar e adoro o meu trabalho. Mas
o Moisés me transmite algo estranho, nem eu mesma tenho certeza quando eu digo
que é medo. Não é isso que sinto, acho que tenho medo de significar algo pra
ele. Aquele homem de trinta e sete anos, não fala desde o dia do acidente. Pelo
menos é o que consta na ficha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Um dia ele falou. Falou uma única
palavra, mas falou e ninguém acreditou quando contei. Ele segurou minha mão e disse
<i>Mariana</i>, acredito que seja o nome da
noiva, mas como não consigo encontrar a família, até hoje estou sem informação
alguma sobre o Moisés. Desde esse dia ele me dá os tais sorrisos que mencionei
e o meu profissionalismo me impede de sorrir de volta. Outra noite, sonhei que
estava sentada ao lado dele no jardim da Santa Cecília e que ele me contava
toda a sua história. Ele disse que morreu em um acidente há alguns anos e que
não sabe por que eu consigo enxergá-lo, já que ninguém o vê ou o escuta. Disse
que tentou falar com várias pessoas, mas ninguém o entendia. Falou para a mãe
que seu amor, ou seja, sua vida acabou naquele dia, mas amor era uma palavra
que ela não conhecia, o que cortou qualquer possibilidade de comunicação entre
eles. Dali em diante, não disse mais nada até que encontrou a única pessoa que
entendia o significado da morte pelo diagnóstico que ele mesmo deu. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">De tanto ver filmes e novelas, pensei
em muitas coisas quando acordei, como se, talvez, eu pudesse mesmo falar com
alguém que não está aqui de fato. Assim que cheguei à clínica, fui olhar os arquivos.
Sim, estava lá o nome dele e não constava a palavra óbito nos registros. E mais
uma vez o meu profissionalismo que, às vezes, vai de encontro ao que eu sinto,
me impediu de acreditar no sonho. E o Moisés continua lá, a me sorrir como que
na esperança de que um dia eu realmente sente ao seu lado no jardim.</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span><o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-397010794716911586.post-47640843892570228402012-11-22T08:57:00.002-08:002013-01-04T08:35:49.085-08:00Carta<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Para mim, acordar sem um abraço
acompanhado de um sorriso e um bom dia, assim como dormir sem um beijo, só
acontece quando não existe nada além de sexo. Acho que por isso eu não fazia,
nós tínhamos aquela mania de colocar aspas quando escrevíamos alguma coisa
sobre o “nosso relacionamento”.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Desde que meu pai morreu, minha mãe
ficou muito reservada. Se ela não tivesse mudado tanto, tenho certeza de que aceitaria que eu apresentasse o Rômulo como meu namorado, até porque a
Cleonice, mãe dele, era amiga de infância da minha. Tudo bem.<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=397010794716911586" name="_GoBack"></a>
Para nenhum de nós dois havia algo mais forte do que a falta que sentíamos do
meu pai que, apesar de ser muito conservador,<span style="color: red;"> </span>enchia
a casa com música e risadas. Não fosse o câncer, ainda teríamos toda aquela
alegria, mas ele também não deixaria que eu entrasse em casa com o Rômulo, por
isso eu não culpo a minha mãe, o meu drama não seria diferente.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Nos conhecemos quando crianças, devido a amizade de
nossas mães. Quando adolescentes, pudemos notar nos gestos um do outro que
sentíamos a mesma coisa, mas só conseguimos, de fato, nos relacionar quando já
estávamos com quase vinte anos. Claro que o meu desejo era contar para todo
mundo o que estava acontecendo. O pior era ter que me esconder como
se eu estivesse cometendo algum crime. Decidimos não levar aquela história tão
a sério, já que não poderíamos mesmo ver aquilo como um namoro, por isso as
aspas na palavra relacionamento. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Cada minuto que passamos juntos valeu
por cada lágrima que eu derramei por não poder estar sempre ao lado dele. A
nossa cumplicidade era imensa, dava sempre a impressão daqueles clichês de
comédia romântica, mas mesmo com tudo isso, insistíamos em dizer que não
tínhamos nada além da cama, assim, parecia que o sofrimento seria menor. Grande
ilusão! Nós dois tínhamos a mesma vontade, os mesmos desejos e o mesmo
sentimento. Mascaramos tudo porque nada dependia de nós.<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; text-align: justify;"> Não vou dedicar esta carta a ninguém, talvez
minha mãe leia, talvez o Rômulo ou talvez só a polícia, não importa. Passei a
vida inteira com uma dúvida me consumindo e foi isso que me impediu de ser
feliz e, para que as pessoas que amo não tenham esse mesmo sentimento, está
tudo esclarecido aqui. Já disse que não culpo a minha mãe e espero que ninguém
o faça, ela apenas manteve, de certa forma, o meu pai presente entre nós.
Culpem toda a sociedade. Minha mãe não ficaria feliz se eu resolvesse assumir
este romance, mas a dor será muito maior por não me ter ao lado dela, esse será
o seu castigo não merecido. Vocês que ficarão com os olhos arregalados ao saber
disso tudo são os verdadeiros culpados. Saibam que uma vida está acabando assim
porque todos vocês ficariam escandalizados ao saber que o filho do Major
Rodrigo se apaixonou, um dia, pelo filho da Cleonice.</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"></span><br />
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;">
</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-397010794716911586.post-91862829314979771872012-10-09T15:50:00.001-07:002012-10-09T15:50:19.589-07:00Passarinho Verde<br />
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Certo dia, o velhinho
que trabalhava no rancho da minha avó me disse que, se pudesse escolher, ele
seria um passarinho verde. João Milho de Pastos explicou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">- Quando alguém
descobre um segredo, diz que foi um passarinho verde que contou. Quando está
feliz por nada é porque viu um passarinho verde.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt;">Adivinha quem me
soprou ao ouvido que eu deveria contar-lhe esta historinha?<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-397010794716911586.post-64854353637755819182012-10-02T10:15:00.002-07:002012-10-02T20:53:40.665-07:00Um Forte Abraço<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Aquele abraço durou quase dois minutos e Amélia não
perguntou nada, não falou nada, e não diminuiu a força em seus braços enquanto
envolviam o namorado que chegou abalado em casa. Sempre que ele precisou, foi ali que buscou conforto<b> </b>e nunca saiu de um abraço sem estar com o
coração mais tranquilo do que havia entrado nele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Os dois conheceram-se na escola, Ensino Médio. Amélia não
era bonita, mas tinha um jeito de lidar com as pessoas que fazia dela uma das
alunas mais populares dali, embora nunca tenha buscado isso. Todas queriam ser
suas amigas e ela nunca julgava ninguém sem antes conhecer. Conversou com
Márcia por alguns dias e pode sentir a maldade com que ela falava dos outros.
Afastou-se imediatamente. Quando ficava com um ex de uma amiga, era sempre
perdoada, ninguém conseguia sequer ver maldade naquele ato. Os guris que não a
conheciam, nem a notavam durante o encontro das escolas nos jogos municipais.
As gurias não a olhavam de cara feia, pois sua aparência não era de causar inveja.
Juliano era o melhor amigo de Amélia que era a melhor amiga de muitos colegas e
amigos de amigos a quem era apresentada durante a adolescência. Era impossível não se apaixonar por ela e não se sentir a vontade para contar todas as
confidências e esperar pelos conselhos. Ela não sabia fazer isso, mas ninguém
se importava, um olhar e um abraço dispensavam qualquer palavra. Estudavam
juntos desde o primeiro ano, mas só na metade do segundo é que ele teve coragem
de contar seu maior segredo que ela, é claro, já sabia. Começaram, então, a
namorar. Viam-se todos os dias na escola e passavam os fins de semana grudados.
Gostavam tanto um do outro e gostavam tanto da companhia um do outro que a mãe
dele e alguns colegas diziam que não ficariam juntos por muito tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Erraram. Logo depois da formatura do Ensino Médio,
Juliano recebeu a notícia da aprovação no vestibular de medicina. Amélia ainda
demorou mais um ano para entrar na faculdade. Claro que todo mundo já pensou
nisso. Sim, o nome dela era por causa da música. Janice dizia que sua filha não
ia se importar em ter um sapato bonito e um corte de cabelo da moda. Seria
inteligente e independente. Quando casasse, seu marido não precisaria ajudar a
lavar os lençóis sujos. Também errou. Amélia não casou, mas foi morar com
Juliano quando, no quarto semestre, a medicina começou a lhe tirar todo o tempo
que tinha pra conciliar a limpeza do apartamento, o trabalho e os estudos.
Ela trabalhava só pela manhã e o curso de pedagogia a distância não exigia
tanta dedicação, então conseguia sempre deixar o apartamento em ordem. Fazia um
escândalo toda vez que encontrava uma cueca no chão do banheiro, porque era
mesmo uma mulher de verdade e embora muito compreensiva, exigia que ele a
ajudasse.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Brigavam quase todos os dias por alguma coisa boba, mas
nunca dormiram sem um beijo de boa noite e um sorriso que representava o <i>já
passou</i>. Não diziam <i>eu te amo </i>todas as noites, mas não passavam um
dia sem deixar um bilhete. Um hábito que adquiriram no início do namoro, quando
mandavam bilhetinhos com palavras apaixonadas escondidos das professoras. Um
sabia tudo o que acontecia na vida do outro, sinceridade era a única coisa que
os dois exigiam. Quando a mãe de Amélia morreu, foi no abraço dele que
conseguiu parar de chorar por alguns instantes. Desde que eram amigos, ela
sempre disse que não conhecia outra coisa que a deixasse tão segura quanto
estar ali, tão perto de Juliano.<o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-fareast;"> Foi
naquele abraço que ganhou quando chegou em casa, por estar tão perto de
Amélia, que ele conseguiu parar de chorar um pouco. E ali mesmo, disse à namorada
que não queria filhos, pois não sabia cuidar de uma criança. Estudou seis anos
durante a faculdade, além da residência. Um mês depois de acabá-la, fez sua
primeira cirurgia. Logo em uma criança. Não foi ele quem deu a notícia para os
pais. Não foram os pais que pensaram em largar tudo o que tinham construído até
agora. Não foram os pais os primeiros a serem encaminhados à terapia. Juliano
não quis entrar na sala da psicóloga do hospital onde trabalhava, foi direto
para casa. Precisava da segurança daquele abraço. Amélia não sabia dar
conselhos, mas aquele olhar e aquele abraço, mais uma vez, dispensaram qualquer
palavra.</span></div>
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-fareast;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-397010794716911586.post-24553294759786269202012-09-12T07:47:00.003-07:002012-10-03T10:08:18.717-07:00Coisas para Guardar em uma Caixinha de Música<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sempre
fiquei encantada vendo aquela bailarina girar ao som da música tão suave que a
embalava. Quando era criança, eu chegava à casa da minha avó, dava um abraço
apressado e ia para o quarto abrir a caixinha para ver a boneca. Passava muito
tempo ali dançando com ela. Dava corda mais uma vez, dançava mais um pouco e
assim eu ia fazendo até que a vontade de correr para o colo da minha avó me
fazia desligar um pouco daquela magia. Antes de sair, eu colocava a bailarina
para dormir, queria que ela tivesse um sonho bem bonito para dançar lindamente
para mim no outro dia. Antes que ela pegasse no sono eu dava mais uma corda
para que, assim que eu a acordasse, ela pudesse começar logo a sua
apresentação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu
estava na quarta série quando a minha tia me deu de presente o primeiro livro
que li, <i>O Mágico de Oz.</i> Decidi que a partir de então, a boneca da
caixinha se chamaria Dorothy, pois imaginei que ela devia sonhar tanto quanto a
menina do livro. As duas foram muito importantes na formação da adulta que sou
hoje. A Dorothy do livro me ensinou a não desistir de nada que eu queira,
sempre há um jeito de alcançar se não desistirmos. A Dorothy bailarina, que
nunca me contava nada do que estava sentindo, me mostrou que algumas coisas
devem ficar guardadas em uma caixinha, acompanhadas de uma boa música.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Construí
minha caixa e a primeira coisa que guardei lá foi a Dorothy que tirei da
caixinha da minha avó depois que estragou e coloquei junto à lembrança que
tenho dela, a verdadeira dona da bailarina. A que tenho mais nítida e que foi a
que eu escolhi pra deixar lá, foi a do dia em que fizemos o piquenique no
descampado perto do rio. Ela fez questão de levar café passado em uma
garrafinha, porque comer os bolos dela sem sentir aquele cheirinho seria muito
injusto e eu reclamaria. Enquanto comia todas aquelas coisas boas sem pensar em
quantas calorias estava ganhando – crianças são muito inteligentes para se
preocupar com isso – ela me contava algumas histórias. Uma delas eu decidi
guardar também, e por isso vou contá-la em breve. Comemos, tomamos café e
conversamos até o anoitecer. Ajudei-a a recolher a toalha xadrez de vermelho e
branco, coloquei as cascas das maçãs em uma sacola e fomos de mãos dadas para
casa. Claro que não para a minha, dormi com ela naquela noite. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Antes
de contar a história que eu escolhi – estou com medo de esquecer algum detalhe
– vou guardar a música. Eu achei graça quando comecei a perceber que todas as
vezes que meu irmão brigava com a namorada, trancava a porta do quarto e ficava
escutando Legião Urbana ou Engenheiros do Hawaii. Se ele já estava triste pela
situação, por que escutava músicas que o deixavam ainda mais triste? Até
que, quando eu tinha sete anos, tive que me separar do grande amor da minha
vida. É verdade, com sete anos! Então eu pensei: meu irmão já tem 19 anos, deve
saber o que está fazendo. Decidi pegar uma das fitas dele, me trancar no quarto
e desde então, fiquei durante meses escutando quase todos os dias a canção que
eu vou guardar pra sempre: Giz. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu
disse que era o amor da minha vida, pois até hoje, mais de vinte anos depois,
quando a escuto, lembro dele. Começamos o nosso namoro aos três anos, não sei
bem como foi o início, mas antes mesmo de sabermos falar direito, segundo o que
minha mãe conta, ele batia lá em casa e saíamos os dois de mãos dadas para
passear. Veja bem que era um namoro sério, até com o consentimento da família.
Nessa mesma época ele guardava tijolos no fundo do pátio e dizia que era para
construir a nossa casa quando fôssemos adultos. Passamos todas as tardes juntos
até os sete anos de idade quando ele foi morar longe da nossa pequena cidade.
Continuamos nosso relacionamento por cartas e visitas, tanto minhas quanto
dele, duas ou três vezes por ano. Quando tínhamos treze anos eu dei o meu
primeiro beijo que também era o primeiro dele. Claro que foi um desastre, mas
ele vai ficar bem guardado na caixinha, pois lembro perfeitamente do que senti
naquele momento. Aquele foi nosso último fim de semana de namoro. É muito
difícil guardar pessoas na caixinha de música, pois isso só acontece quando
sei que elas não farão mais parte da minha vida, ficarão somente na memória.
Mas como ontem eu recebi a notícia de que ele vai casar no próximo mês, está
mais do que na hora de deixá-lo na companhia da minha bailarina.<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"> Desde que comecei a construir a caixinha, estou
pensando na história da minha avó, mas não consigo lembrar os detalhes. Sei a
parte mais importante e que precisa ser guardada lá. Era uma vez uma menina que
prendia os cabelos com duas fitas, usava um vestido no comprimento do joelho e
era dona do sorriso mais lindo que já se viu – eu sempre imaginava a Dorothy do
livro quando ela descrevia a menina. Depois que eu a enxergava, aconteciam
muitas coisas na história que eu não lembro bem, mas o que não vai sair da
minha memória é que ela sempre dava um jeito de realizar seus sonhos. Ela
sonhava tanto com uma estrela que um dia alcançou uma e, segurando firme com
apenas uma das mãos, passeou por um lugar lindo que possuía flores de todas as
cores. Essa foi a recompensa por não ter desistido do que parecia impossível.
Essas coisas ficarão guardadas pra sempre, imexíveis. Agora preciso dar corda
na minha caixinha de música, deixar a boneca descansar e sair em busca da minha
estrela. Não devo demorar.</span></span></div>
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;">
</span>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;">
</span><br />
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-397010794716911586.post-22590132974945269052012-09-12T07:43:00.002-07:002012-09-28T06:49:21.518-07:00Como Eu Conto a Crônica<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Indo para o trabalho hoje à tarde, sentei-me na mesma
poltrona de sempre. Eis que um senhor sentou ao meu lado no ônibus e me
perguntou o que era preciso para escrever um poema. Fiquei alguns segundos
pensando o que responder, já que a pergunta que perambulava na minha cabeça era
outra muito mais difícil. Como ele sabia que eu escrevia? Respondi apenas <i>inspiração</i>.
Mas sobre aquela segunda pergunta, a minha, eu não sabia o que pensar.
Publiquei pouca coisa, mas nada acompanhado de foto. Aliás, escrevi pouca
coisa, quase nada de poesia. Aí lembrei
do que uma amiga havia me falado alguns dias antes, que quando estamos felizes,
normalmente por ter conhecido alguém especial, fica muito mais fácil de
escrever. É como sentar à frente de um computador e esperar que venham as
palavras. Juntando os dois fatos, deduzi que aquele senhor<span style="color: red;"> </span>percebeu que eu estava especialmente feliz e deve ter
me achado com cara de poeta. Agora estou aqui escrevendo sobre o ocorrido.
Estou tão inspirada – não tanto a ponto de fazer um poema – que pensei em
escrever um conto, mas o que aconteceu foi, de fato, tão interessante que
decidi pela crônica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Os estudantes, desde o ensino fundamental, são intimados
a criar textos sobre suas férias ou sobre a última notícia do jornal. Não
conseguem escrever, pois não tem a “tal inspiração”. O que os professores não
se dão conta é que deveriam aproveitar que os adolescentes estão sempre
apaixonados ou desapaixonados e aguçar o gosto pela escrita fazendo desses
sentimentos uma ferramenta. Mas como todos os aspectos da educação no Brasil,
as ideias dos professores também estão precárias, o que é completamente
compreensível para mim, futura professora de Língua Portuguesa e assustada com
o ensino público (ultimamente com o privado também). Facilitaria se fossem
sugeridos, pelo menos, três temas e mais um que desse ao aluno liberdade de escrever
sobre o assunto de sua preferência, pois não sabemos se naquele mesmo dia ele
não viu um “passarinho verde” que o trouxe inspiração ou se não levou um “chute
no bumbum” e está precisando escrever um pouco para “afogar as mágoas”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Conheço uma pessoa que – acreditem – ganha até dinheiro
publicando livros, que costuma dizer que um autor precisa de algo que o deixe
triste, ou até depressivo, para ter assunto suficiente para fazer da escrita o
seu trabalho. Do contrário, cria um texto aqui, outro ali, pensando sempre em
coisas banais, fazendo com que o leitor ache tudo muito parecido. Como eu já
disse, ele é um “escritor de verdade”, sabe o que está dizendo. E agora, quem
está certo, o triste e experiente autor ou eu que estou aqui super feliz por
ter conhecido uma pessoa que me trouxe inspiração para escrever esta pequena
crônica?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">As minhas notas de redações na escola eram sempre baixas
porque não chegavam às vinte linhas solicitadas pela professora. O problema é
que sempre que começo a escrever – sim, é assim até hoje – eu já sei como será
o final e a ansiedade de contar essa parte me impede de desenvolver mais as
ideias. Então, vamos logo ao ponto onde eu queria chegar, aproveitando para
responder a pergunta do parágrafo anterior. O que faz deste texto uma crônica e
não um conto? Agora já são duas perguntas para responder e eu não vou fazê-lo.
Como estudante de letras, vou treinar para a minha futura profissão tentando
instigar o pensamento do leitor. A principal característica que difere a
crônica do conto é que um é real e o outro é ficcional, certo? Aquela primeira
pergunta, por exemplo, não me foi feita, eu não conheci ninguém nest<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=397010794716911586" name="_GoBack"></a>a semana e as vezes escrevo quando estou triste e as vezes
quando estou feliz e nem por isso podemos dizer que este texto é um conto,
mesmo que muita coisa nele seja ficção. Então, colegas professores, paremos um
pouco de exigir tanta classificação e tentemos despertar nos alunos o gosto
pela leitura. Estudar os gêneros literários é sim, muito importante, mas o
saber escrever só acontece depois de muita leitura. De nada adianta classificar
e não conseguir ler e expressar-se.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt; text-justify: inter-ideograph;">
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i>Agosto/2012</i></span></div>
</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-397010794716911586.post-31199110676764498282012-08-03T08:31:00.002-07:002012-08-25T17:50:02.799-07:00Um Breve Caso Gramático<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Um
ponto final não cairia bem àquela história, não na parte em que supostamente
acabou. Estava indo tudo muito bem até aparecer o ponto de interrogação. E era
uma pergunta que vinha sem gabarito do tipo daquelas <i>respostas pessoais.</i> Aí que a gente se dá conta que o pronome
pessoal pode significar três pessoas diferentes na mesma frase. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Vou
contar esta história direito, aliás, vou contar e as interpretações podem ser
mil. Essa maldita interpretação! A pessoa nunca entende o que o autor quer dizer. Pensando bem, aí é
que está a genialidade da questão. Poder entender o que nos faz sentir melhor.
Pronto. Vou contar do meu jeito e cada um entende do seu. Quando ela começou,
eu já sabia o final (vocês saberão só nos últimos parágrafos), mas nem
imaginava tudo que aconteceria até chegar lá. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Dois
sujeitos resolveram entrar no mesmo texto, que a princípio, não deveria virar
uma história, mas com essa mania de escritores, as frases foram aumentando,
aumentando... tudo por conta dos adjetivos, eles que expressam qualidade. Ta.
Nem sempre, mas todos foram pra trazer alguma coisa boa. Quando ele era usado
pra criticar, vinha logo a solução. Ainda assim, os que prevaleceram sempre
foram os com aquela primeira denotação, o que fez com que a história ficasse
cada vez mais bonita, inteligente, criativa e acima de tudo,
divertida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Entrou
no enredo, então, o advérbio de intensidade, mas ele não conseguiu ser mais
forte do que o de tempo porque há um grande abismo entre os tempos verbais
que usamos na fala e o tempo que rege as orações descoordenadas que realmente
sentimos. A nova ortografia que parecia ter unificado tudo, era fajuta. No fim,
um fala o português brasileiro, outro o europeu. Entendem-se muito bem, mas existem
algumas diferenças que ninguém vai conseguir regrar. Por exemplo, o uso do
sujeito composto. Um não concorda, mas o outro não consegue escrever sequer um pequeno
texto usando o sujeito simples. O problema é que um deles precisa ficar oculto
e esse nunca está satisfeito. Todo mundo sabe quem ele é, é sempre óbvio, mas
existe alguém que não entende da sintaxe e, por isso, consegue levar a história
adiante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Futuro,
presente e passado estão diretamente ligados. A maioria das pessoas dá mais
importância às normas do que à semântica e não perde o costume de engessar tudo
o que fala, sente e vive. Tem medo do diferente. Sempre achei que o verbo <i>seria</i> era conjugado no futuro do
pretérito porque pra ele acontecer de verdade depende de deixar pra trás o que ele já foi. Eu seria bem melhor se esquecesse de viver o passado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Regra
básica da sintaxe, dois pontos, não há vírgula no mundo que consiga separar o
sujeito do predicado, até porque não é certo tentar fazê-lo. Depois de engolir
uma gramática inteira eu aprendi não só a aceitar isso, mas a concordar que
nesse caso não há liberdade, algumas coisas não podem fugir da norma culta. Reticências
não cabem aqui, são três sinais em um só e o que vem depois não pode ser mudado.
Vou usar uma vírgula. Assim, a frase continua de onde parou, a menos que seja
interrompida por uma oração coordenada sindética adversativa,<o:p></o:p></span><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i>Agosto/2012</i></span></div>
</div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-397010794716911586.post-17917053044247921802012-07-26T08:34:00.002-07:002012-10-03T10:13:40.645-07:00Sujeito Indefinido<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">E se
tudo que você passou anos procurando você encontrar um dia, de repente, em uma
única pessoa? Luiza chegou bagunçando de cara a vida de Heitor. Ele tinha as
suas certezas, não dependia de ninguém, não perguntava se era melhor colocar o
casaco preto ou o cinza, não precisava nem de opinião.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Heitor
tinha acabado de sair de um relacionamento de sete anos e seu único objetivo
agora, era conhecer o maior número de pessoas sem se envolver com ninguém. Sentiu
vontade de dançar com quem ele não conhecia embalado pelas músicas que não
costumava ouvir. Um show de pagode. Colocou o casaco cinza, o tênis que estava
guardado porque não gostava de usar e entrou naquele lugar onde jamais havia
pensado em frequentar. Dançou com três mulheres, mas parou antes que terminassem
as músicas, não estava no mesmo compasso de nenhuma delas. Com a segunda ele
bem que tentou, não acertaram o tal do compasso, mas estavam no mesmo ritmo.
Uma pisada no pé. Não deu para continuar a dança. Viu, de longe, a menina que
parecia saber todos os passos e continuou ali, da mesma distância, pois tinha
certeza que não conseguiria acompanhá-la. Luiza notou o seu olhar e sem
perguntar entrou na vida de Heitor. Ele não teve tempo de lembrar do seu
objetivo inicial e alguns dias depois não quis mesmo lembrar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Os
dois foram se conhecendo aos poucos e cada dia ela mostrava que não era aquela
com quem ele sempre sonhou. Ela o fazia sem perceber e ele, sem querer,
aceitava cada uma daquelas diferenças. Comeram sushi, mas só depois descobriram
que nenhum dos dois gostava daquela comida sem gosto. Heitor não achava nenhuma
mulher bonita sem maquiagem. Ela tinha um olhar que dispensava a sombra e a
máscara. Luiza não gostava de nenhum sapato masculino. Nele caia bem. Ele
começou a ouvir pagode e ela a decidir que casaco ele usaria. Ele fazia
contabilidade e ela oficina de criação literária, um mês depois, Luiza fazia
algumas contas para Heitor e ele dava opinião nos textos sempre mal escritos por
ela. Tudo o que ele buscava em alguém passou a ser o que encontrava nela.<o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> Foi então que ela
disse que conheceu um sujeito que, com certeza, daria a ela toda a felicidade
que desejou. Heitor decidiu se afastar para que Luiza pudesse viver o que
sempre sonhou. Não deu chance para ela mostrar que, com artigo definido ou indefinido,
o sujeito era sempre ele.</span></div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-397010794716911586.post-86834423426680246102012-07-26T08:33:00.002-07:002012-07-26T08:49:14.250-07:00A Métrica do Tempo<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Eu não sei das métricas nem das rimas<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Devo, então, escrever sobre o amor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Não. Não há espaço para ele<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Não há tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Há filhos sem berço<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Embalados pelo frio nas lixeiras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Só quem não tem é capaz de sentir,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Estéreis choram.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Ninguém olha para o lado<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Ninguém enxerga.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Não damos mais esmola,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Não sabemos mais quem precisa<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Ou quem ocupa um lugar alheio no sinal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Aliás, não damos bom dia,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Não há tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Avise os desavisados<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Que vistam a camisa do seu time em vista da vitória!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Desinformados ou distraídos,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Torçam por vocês<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Para que não virem os porcos do Haiti.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Mas que seja agora!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Não há mais tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><i>2010</i></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-397010794716911586.post-20863010403225685322012-07-26T08:32:00.006-07:002012-07-26T08:43:03.569-07:00Marcas<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 49.65pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Naquela
noite, a tristeza o manteve acordado. Ver sua esposa com os olhos cerrados, sem
responder aos seus carinhos. Era inaceitável que a vida tivesse acabado
primeiro para ela. A morte de Rosa Maria, há dois meses, foi o que tornou o
quarto a nova morada de Ernesto Carmesin. Agora o velho sai de lá uma vez por
semana para tomar um banho que leva sempre muito tempo. As refeições não fazem
falta. Come, no quarto, porque a filha insiste. Durante a vida inteira, o
número de visitas a qualquer médico deve ter totalizado cinco, no máximo. Agora
mesmo é que ele não aceitava visita de nenhum especialista. A morte de Rosa
Maria, que noite triste foi aquela. Aliás, que dias tristes têm sido todos sem
a sua companhia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 49.65pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Olhou-se
no espelho e teve a impressão de que o tempo havia passado rápido demais. Cada
uma daquelas marcas em seu rosto, parecia marcar também um momento de sua vida.
E as lembranças vieram-lhe como uma enxurrada. O último natal reuniu todos os
filhos na mesa grande da sala, além dos doze netos e do bisneto. Recém chegado,
filho da neta mais velha, era para Pedro que se voltavam as atenções na noite
do natal de 1997. A Vó Ninha, como era carinhosamente chamada Rosa Maria por
toda a família, nunca comprava presentes, passava o ano inteiro confeccionando
o que iria para o saco do Papai Noel que era pendurado na lareira. Para cada um
era feito um presente diferente, os únicos iguais eram os das netas gêmeas. Uma
boneca de pano amarela para Julia e uma vermelha para Joana. Ernesto tinha
sempre uma criança no colo. O colo do Vô Neneco era o melhor de todos, dizia
Luíza que mesmo com dezessete anos voltava a ser criança com os carinhos do
avô. E essa foi a última vez que viu toda a família reunida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 49.65pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Já
havia passado tanto tempo da morte de Antônio, que Ernesto esqueceu que faltou
alguém naquela mesa. Não sofreu como Rosa Maria no dia em que recebeu a notícia
do atropelamento de seu filho de apenas doze anos. Lembrou-se disso subitamente
e agora sim, veio-lhe uma sensação de perda. Sentiu-se sozinho e culpado por
não ter chorado pela morte do filho. A nitidez com que revivia aquele momento
era impressionante. Abraçou a esposa que chorava desesperadamente. Ajudou-a a
ir até o quarto e colocou-a na cama de onde não conseguiu levantar-se durante
muitas horas. Ernesto contou aos filhos e o desespero da mãe viu-se também nos
olhos daquelas crianças. Agora já era tarde para sofrer por isso e, já era
tarde para se arrepender pelas faltas que cometeu antes do enfarte que sofreu
um ano antes do nascimento da sua primeira neta. Foi o medo da morte que mudou
sua vida. Não era antes um homem ruim, mas sua severidade criou nos filhos um
receio que os mantinha sempre um pouco distantes do pai.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 49.65pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Talvez
seu maior erro tenha sido forçar Rosa Maria a casar-se com ele. Brigaram
incessantemente durante um ano. O nascimento do primeiro filho fez com que a
mãe se calasse diante às grosserias do marido. Além de dedicar o seu tempo,
depositava também toda a sua preocupação nos cuidados com Antônio. O convívio
entre os dois tornou-se tranquilo, mas estava longe de ser uma relação de
afeto. Ainda agora, diante do espelho, achava justo ter forçado aquele
casamento. Não havia outra mulher que despertasse nele maior interesse. Naquela
época, tinha dinheiro para manter uma casa com conforto e, afinal, nas últimas
décadas conseguiu dar a ela a dedicação merecida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 49.65pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Uma
súbita dor. Respirou fundo, levou as duas mãos ao peito e fechou os olhos.
Lembrou-se da infância e pode ver que a maneira rude com que o pai e a mãe o
criaram foi o que o tornou tão reservado. Não abriu mão de nenhuma decisão, não
dedicou seu tempo e, por muitos anos, não demonstrou sinal de afeto por
ninguém. Na verdade, não sabia como fazê-lo. Atentou que podia ter prejudicado
seus filhos com o mesmo erro. Mas não, a mãe deu-lhes tudo o que era
necessário. Teve de deitar-se na cama. A convicção de ter podido mudar nos
últimos anos amenizou a dor. Precisou fechar os olhos mais uma vez. A
respiração está ficando cada vez mais lenta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 49.65pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><i>2009</i></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-397010794716911586.post-73148207801781554512012-07-26T08:32:00.003-07:002012-07-26T08:32:15.531-07:00Murphy<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 49.65pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Chegou
em casa mais tarde do que de costume e viu que estava sem as chaves. Lei de
Murphy. Todos estavam dormindo. A dor nos rins aumentava cada vez mais. Tocou a
campainha duas vezes e nada. Desabou a chuva. Sem bateria no celular, teve que
caminhar até um telefone público. A irmã só resmungou um “está aberto”. Entrando,
percebeu que aquela dor que sentira era apenas reflexo da forte ligação que
tinha com Ana que encontrava-se sentada no chão, ao lado do telefone, com os
joelhos juntos ao peito. Sabia exatamente o que ela sentia. Em suas devidas
proporções, sempre sabia. Aos gritos acordou os pais, pois a chave do carro não
estava no lugar. Não dava tempo de esperar por uma ambulância, a dor era quase
insuportável. O pai, apenas pelo fato de saber que não o deixariam mais dormir,
carregou Ana até o carro, sem muito cuidado, e dirigiu até o hospital. Vitória
segurou a mão da irmã por todo o caminho, sem ouvir choro, nem palavra alguma.
Não era necessário. Ela sabia o que Ana sentia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 49.65pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O
sol ainda nem havia aparecido quando deixou o hospital. Já estava a par do
estado da irmã: uma cirurgia simples para remover um cálculo renal. Já na
frente do escritório onde trabalhava, aconteceu aquela cena típica de um dia de
azar. Um ônibus passou em uma poça d’água, sujando de barro sua roupa. Era inacreditável
que no outro dia, tudo ainda desse errado. Lei de Murphy, lembrou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 49.65pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sua
carta de demissão estava pronta em cima da mesa. Sorriu irônica. Pegou-a e sem
falar com ninguém, saiu do prédio. Freada brusca. Deitada ali no chão, ao mesmo
tempo em que o médico discava para lhe contar da complicação que ocorrera na
cirurgia da irmã, Vitória perdeu os sentidos e Ana também.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 49.65pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i>2009</i> <o:p></o:p></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-397010794716911586.post-87890613896469064902012-07-26T08:31:00.001-07:002012-07-26T08:48:02.269-07:00Leitura x Cultura<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Hipérbato,
anástrofe, prolépse, sínquise, assíndeto, anacoluto. É desnecessário que se
conheça, em detalhes, a sintaxe para ser um bom leitor. Um texto,
independentemente do gênero, não transmite somente compreensão. Mais do que
isso, é capaz de despertar sentimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Parece
que cada vez mais, os textos pobres em conteúdo, são procurados. Os livros mais
vendidos, em destaque nas livrarias, os tão conhecidos best-sellers, nem sempre
são precários nas suas histórias, mas não é esse o fator que faz com que eles
se tornem tão populares. Basta estar na vitrine para se tornar livro de
cabeceira, e o seu leitor, instantaneamente, tornar-se culto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Por
falar nisso, na época em que O Pequeno Príncipe foi indicado como livro de
cabeceira por várias misses, será que foi realmente lido? Pode até ser que sim,
mas arrisco afirmar que a intertextualidade, tão rica na obra, não foi sequer
reparada. Enquanto algumas obras são consideradas boas por serem populares,
outras, como essa, tornam-se ruins pelo mesmo motivo, enquanto as leituras
deveriam ser escolhidas por quem o faz sem a influência de outras opiniões.
Afinal, não é para isso que servem as boas críticas, é o objetivo, apenas, de
quem lucra com as vendas dos livros.<o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> Cultura ou não, o importante é que se leia, mas
se é para comprar livros de vitrine, que seja o Harry Potter, que instiga
divagações. Entretanto, vale a pena dar uma olhada mais no fundo da loja e
começar as compras pelos autores clássicos, sem deixar de colocar na sacola um
grande contista.</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><i>2009</i></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0